Estou farta de dizer que um dia começo a escrever sobre as aventuras no voluntariado, mas de facto nunca o faço… Ou quando o faço está perdido entre uma rede e outra, por isso a partir de hoje (mais uma resolução para 2019) vou começar a partilhar as aventuras, porque de facto além do coração cheio somos ricos em histórias para contar.
Já lá vão (pelo menos) quatro anos desde que este episódio aconteceu. Estávamos na altura do Rock in Rio a meio da nossa volta quando encontrámos um casal de namorados muito jovem. Questionados sobre porque estariam ali e as suas idades contaram-nos uma história sem pés nem cabeça, mentindo na idade. Desconfiados que nenhum pai aceitaria que uma miúda tão nova viesse sozinha atrás de um namorado que tinha vindo para Lisboa atrás de outra namorada, ligámos para o 144 (número de emergência social nacional) e explicámos a situação, bem como a desconfiança de que a rapariga seria menor!
Sempre prontos a ajudar do outro lado responderam-nos que o máximo que podiam fazer era chamar a polícia… Trememos, não por medo ou por achar que a PSP não estaria à altura da situação, mas sim porque não queríamos assustar as pessoas em situação de sem-abrigo que ali dormiam e prejudicando assim a relação das nossas equipas com as pessoas. Por isso decidimos que iríamos nós à esquadra mais próxima (neste caso Santa Apolónia) explicar a situação, pedir que passassem lá por acaso e os identificassem para tirarmos as dúvidas. – Em Portugal os menores e as grávidas não ficam na rua quando encontrados, e é nosso dever moral avisar de imediato as autoridades competentes quando nos deparamos com estas situações.
Chegados à Esquadra, foi-nos explicado que não poderiam dar conta da ocorrência, uma vez que aquele posto era apenas para turistas e por isso não teriam meios para se dirigir ao local. Sempre prontos a ajudar explicaram-nos onde nos devíamos dirigir, avisaram imediatamente a Esquadra da Penha de França que estaríamos a caminho. Chegados à segunda Esquadra fomos imediatamente recebidos, o responsável de serviço falou connosco ouviu as nossas preocupações e disponibilizou-se logo a ajudar assim que tivesse equipa!
Parte da nossa equipa seguiu a volta e eu e a C ficamos na esquadra. Passamos toda a informação à equipa que ficou disponível e seguiu viagem ao encontro dos dois jovens. Acabando por identificá-los descobrindo assim que a rapariga tinha apenas 15 anos e por isso estaria a caminho da esquadra com a equipa da PSP. Aflitas eu e a C que não queríamos ser identificadas pedimos ajuda à Polícia de serviço, que nos ajudou a fugir da esquadra da polícia às 2 da manhã!
Confesso que todos nós mal pregámos olho e no dia seguinte ligámos de imediato para a esquadra, do que nos podiam dizer explicaram-nos que a jovem quando chegou junto deles (acompanhada pelo suposto namorado) vinha sob o efeito de substâncias, por isso ainda ponderaram levá-la ao hospital. O receio que ela fugisse falou mais alto e por isso deixaram-na lá ficar até passar o efeito. No final com ela sóbria conseguiram algumas informações, nomeadamente que era do Norte do país e tinha fugido de casa! Nesse mesmo dia ia ser levada pela PSP aqui de Lisboa à família no Norte.
Podem já ter passados anos, mas nunca é demais agradecer a estes profissionais pelo trabalho exemplar que prestaram e por toda a disponibilidade em ajudar-nos. Foram 5 estrelas, muito obrigado!