Quem cresceu nos anos 90 ficou de alguma forma marcado por series como o “Sexo e a Cidade” ou “Friends”, quem cresceu nesta altura começou desde cedo a aceitar a homossexualidade e a ver enredos complicados na busca do amor. Estas são as minhas series de culto, já perdi a conta à quantidade de vezes que vi o Friends e – graças à HBO Portugal -voltei a rever o “Sexo e a Cidade” e a chegar a umas conclusões muito diferentes daquelas que se gravaram em mim na altura.
Em algum ponto todas sonhámos em ser a Carrie, a nova iorquina independente, cheia de estilo e com uma crónica muito à frente para a atura. O que é certo é que em qualquer em qualquer altura todas sonhámos em escrever crónicas, passear por Nova Iorque e fazer compras. Viver romances longos e curtos, enquanto procuramos por aquele grande amor. O que é certo é que todas ficaram com alguém no final da série… Até mesmo a maior alérgica a relações de sempre.
Esqueço-me que ao rever isto aos 32 anos, percebo que é mais uma Disney que me vendeu um sonho que não é verdade. Aquela personagem maravilhosa pela sua independência (e montes de sapatos) é, na realidade, emocionalmente dependente, vive uma relação doentia com um tipo que aparece no final e que a salva! São precisas imensas temporadas para ele perceber que não consegue viver sem ela, fazer uma reflexão interior, e sentir-se arrependido por ter perdido o ‘amor da sua vida’. Por muito à frente que a serie tenha sido para a época, de facto a personagem principal tem alguns problemas íntimos a resolver, que não resolve na realidade. Corta uma relação co-dependente (em representação daquela que a acompanha toda a trama) e acaba por ficar com a verdadeira personagem que a deixa assim (insegura).
Essa é uma questão passa para os dias e hoje. Habituamo-nos a ver relações complicadas, o drama, o horror, tudo e mais uma coisa, para depois no final acabar tudo bem. A questão é que na vida real quando acaba, acaba, ponto, não leva um viveram felizes para sempre. O que é certo é que ficámos todas babadas a ver o Mr. Big em Paris a salvar a Carrie de mais uma relação abusiva (aquela que representa a deles próprios ao longo dos anos).
Ninguém reparou foi que, ainda incompatíveis, o Aiden era simplesmente o homem que todas devemos procurar. (Não peço desculpa se ofendo fãs) Não, não era enigmático, nem rico, nem charmoso, nem tão velho quanto o Mr. Big. Mas cuidava dela… Era simples, fácil de entender, dedicado ao seu negócio, não havia problemas e o problema era esse mesmo, a inexistência de drama!
A inexistência de drama põe-nos à procura do nosso grande amor, mas quem é afinal o nosso grande amor, é aquele que dá imenso trabalho ou aquele que simplesmente é simples? O Aiden era apenas a representação da inteligência emocional que se deve procurar num homem, mas este foi descartado por duas vezes face a inexistência do amor-próprio da personagem principal.
O tipo enigmático que não sabe o que quer? Ou o tipo que todos os dias cuida de nós?
Entre príncipes encantados da disney e relações co-dependentes ou acabamos atrás do príncipe encantado que fica super bem no papel (que há-de algures ter um defeito) ou no enigmático solteirão cheio de drama, mas que acreditamos que nos ama… Esquecemo-nos do simples! E vejamos os factos todas as outras acabam com homens simples, cuja relação é simples… O raio do drama é um vício! Bem sei que os tipos com inteligência emocional não vendem séries, não geram debates e não aumentam temporadas, mas na vida real eles andam aí e ao contrário das séries devemos procurá-los a eles, em vez de esperar que de alguma forma essa inteligência emocional finalmente apareça nos Mr. Bigs desta vida!