Numa casa ainda adormecida, localizada em mais uma cidade fantasma inicio a minha rotina matinal…
A vida mudou, fala-se num mundo Pós COVID, num mundo diferente quando isto acabar, mas a verdade é que já mudou…
Dirijo-me à varanda, aquele que é agora o meu novo refúgio e sento-me a observar a rua adormecida. Outrora às 7h30 já havia movimento, agora apenas o cheiro a pão vindo das chaminés do Pingo Doce percorre as ruas desertas. Sinto o sol bater-me na cara, sorrio, o meu momento zen começa agora… Abro o livro, enquanto os gatos correm alegremente pela varanda, e mergulho nas letras.
São estes 20 minutos de leitura ao sol que me preparam para um dia de teletrabalho em clausura… Estou há 19 dias em casa, dentro de mais dois dias o meu corpo já terá impresso em si esta nova rotina. Se é a melhor, não sei, mas resulta comigo.
Substitui o livro no metro pelo livro na varanda, o acordar às 6h30 pelas 7h30, o pequeno-almoço para levar, por um para ficar, a companhia da rádio continua, mas em vez de ser no caminho para o trabalho passa a ser na confeção da cozinha. Depois de tudo pronto é hora de acordar quem ainda dorme… Ganhamos tempo, ganhamos mais refeições em família, ganhamos mais convívio e readaptamo-nos à vida em conjunto. Não há espaço para a saudade de quem está, mas há para quem ficou longe por precaução.