Mesmo depois de tanto tempo, quando leio as minhas notas da altura, parece que ainda vejo cada conversa com cada monge como se fosse hoje.
“Hoje fui ao centro comercial e lembrei do que eu era apegado às coisas, à espera do ordenado para comprar coisas que não precisava, que no fundo eram para mostrar!”
Para ele o mundo era uma loucura e agora que encontrara a paz, queria dizer que as coisas eram apenas coisas desnecessárias, se o seu telemóvel funcionava não necessitava de comprar um novo, não havia necessidade de algo inútil.
“O mundo é louco, as pessoas não vivem, não estão felizes, não querem ser felizes, porque não olham à volta. E eu hoje olhei para o meu ‘eu’ antigo e ri, porque a alegria e satisfação não está ali.”
Dizia enquanto partilhávamos a cozinha com cheiro a bolo de alfarroba… Eu já limpava a cozinha quando encontrei um cabelo, riu-se e disse:
“Não é meu de certeza.”
Ri-me com ele, mas a curiosidade de saber porque todos rapavam o cabelo era maior que eu.
“Posso fazer-te uma pergunta?” – disse meio envergonhada
“Claro que puedes.”
“Porque rapam o cabelo os monges?”
Riu e disse “os monges e as monjas! Quando nos tornamos monges há três coisas que mudam:
- O pensamento
- O aspecto
- O nome
O cabelo rapado simboliza o desapego mundano, uma monja com cabelos grandes teria que cuidar deles, pôr-se bonita, tal como um homem, por isso rapamos o cabelo, para nos desapegar…”
Mais uma vez o desapego das coisas, das pessoas, elas não nos pertencem, apenas nos espelhamos nelas e culpamo-las daquilo que não fazemos.
No fim do dia comecei a dizer adeus aos balões interiores que já tinha começado a largar… Apenas eu interesso, nada a que esteja apegada poderá trazer coisas boas, pois o apego gera dependência e isso é doentio…
No fim do dia sorria, um dia sem agenda tinha-me ensinado mais que uma semana de correria.
Estava na altura de meditar sobre o assunto e praticar o desapego emocional.