Hoje, dia 22 de maio, celebra-se o dia do autor português, nunca um dia me fez tanto sentido. Pena que seja mais um daqueles que tem pouca relevância nos nossos meios de comunicação. Teria sido um dia espetacular para ver no Alta Definição um autor em vez de mais um actor.
Atenção que não tenho nada contra atores, sou a favor de tudo o que seja feito para promover a nossa cultura. Mas sinto que a cultura literária está cada vez mais esquecida.
Portugal é o país com menos hábitos de leitura e compra de livros na Europa. Não há incentivos à leitura, nem na escola!
Há professores de português que já nem exigem aos alunos a leitura completa das obras que estão a dar, limitam-se a pedir que estudem os excertos que vêm nos livros de português e já está. Em casa, é mais fácil colocar uma criança em frente a um ecrã, que incentivá-la pegar num livro, ou (Deus nos livre) sentarem-se com ela a ler. No digital, os bookstagrammers são os influenciadores com menos peso e menos lucro. Já para não falar nos autores… Sim, aqueles que celebramos hoje.
Viver dos livros que se escreve é uma miragem, ser um autor português (aquele que celebramos hoje) é uma luta constante! Após bater de porta em porta, muitos optam pelo acto de fé de se auto publicar, pois encontrar uma editora que aposte neles chega a ser mais difícil que uma agulha num palheiro. Se não pararmos para ver isto, então o futuro da nossa literatura está muito mal parado.
Os livros são uma escapatória do mundo, os livros (noutros tempos) chegaram a ser considerados perigosos, porque ensinavam, abriam horizontes. Devemos esquecer-nos que ‘esta coisa de ler’ foi considerada um luxo durante séculos? E não foi assim há tanto tempo que mudou, recordo-me de encontrar o diploma da instrução primária da minha bisavó e alguém comentar que naquela época era difícil uma mulher concluir aquele ciclo de estudos. Na realidade, na aldeia da minha bisavó era difícil alguém concluir a quarta classe, poucos sabiam ler e escrever. Os namoros eram a três, os apaixonados e o redator/ leitor das cartas. (Explicando às camadas mais jovens, imaginem ter alguém a escrever e ler os vossos whatsapps por vocês.)
Nos tempos da minha bisavó um livro não se encontrava à venda tão facilmente, por isso ela disse tantas vezes à minha mãe “quando não tenho que ler, leio a Bíblia, já a li tantas vezes”. Hoje em dia todos sabemos ler e escrever, é fácil encontrar livros à venda e se não os pudermos comprar temos bibliotecas, somos privilegiados no acesso à informação e desprezamos tudo isso.
Temos tantas boas obras na nossa língua, porque não as valorizamos? Porque não lemos? Porque não nos orgulhamos nos nossos autores? Porque não lhes facilitamos a vida e contribuímos para que escritor, seja uma profissão digna e a tempo inteiro. Porque não há leitores suficientes para isso.
Desculpem o desabafo, mas no dia em que celebramos estas pessoas magníficas que contribuem para a nossa cultura, devemos lembrar o quão difícil é o seu percurso. Por isso os meus votos de feliz dia à Gigi Manzarra, ao Bruno Franco, à Lara Barradas, à Sarah Musgrave, ao João Tordo, João Reis, Isabel Machado, João Reis, Cláudia Andrade, Afonso Cruz, Maria João Fialho Gouveia, Cláudia Cruz Santos… e tantos outros.
Por favor coloquem aqui o vosso autor português preferido, hoje celebrem o dia a apoiar a sua obra!