Águas Passadas é o segundo thriller de João Tordo, conheci o autor pelo seu primeiro thriller A Noite em que o Verão Acabou e fiquei completamente fã.
Um corpo de uma jovem adolescente dá à costa na praia de Assentiz, apresenta várias marcas de mutilação e é encontrado por um eremita. Cícero vive isolado do mundo e esconde um segredo. Marcado pela dor do passado, resolve ajudar Pilar (a sub-comissária responsável pelo caso).
Envolvida por toda a história, sobretudo depois de aparecer um segundo corpo, Pilar vai desafiar as chefias e colocar a própria vida em risco, para descobrir quem é este psicopata que assombra a cidade Lisboa.
Também Pilar luta contra os seus próprios fantasmas, um pai polícia morto em serviço, um vício que a consome e que ela teima em não tratar frontalmente, uma relação doentia e a vulnerabilidade de ser uma mulher num mundo de homens.
O livro está sublime, uma narrativa rica em palavras e em clássicos literários. Durante a investigação são mencionados várias histórias e mitos para explicar as obras macabras deste psicopata, o que nos faz recordar momentos que há muito não visitávamos.
Aqui não há espaço para perfeição, todas as personagens são dotadas de uma imperfeição tão negra e profunda que as torna mais reais. Aliás é a própria paixão pelos mortos que os faz colecionar múltiplos erros e segredos. A dor interior é a sua motivação, a vontade de não pensar a sua ação e impulsividade a razão para não medir consequências.
Sem percebermos o livro torna-nos mais ricos, embala-nos neste mundo quase sem pistas, mas rico em histórias pessoais. Foi das melhores companhias que podia ter levado comigo de férias, mas deixo o aviso, pode perturbar ligeiramente os mais sensíveis.
Para mim é um livro de 5 estrelas em 5!